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Estilo de época e estilo de autor

Você já se deparou com os termos “estilo de época” e “estilo de autor” estudando para o ENCCEJA e ficou confuso? Pois sabia que esses dois conceitos são muito importantes na parte de linguagens da prova, principalmente em questões de literatura. Mas calma: nesta aula, vamos te explicar tudo de forma simples, objetiva e com exemplos, para você não errar mais!

O que é estilo de época? Definição e exemplos fáceis

O estilo de época é o conjunto de características literárias comuns a um determinado período histórico. Em outras palavras, é como os escritores de uma mesma época costumam escrever, baseados no que está acontecendo no mundo naquele momento: política, religião, ciência, cultura e sociedade.

Por que isso importa na prova?

Muitas questões do ENCCEJA pedem que você identifique a época a que um texto pertence com base nas suas características.

Sendo assim, as principais características do estilo de época:

  • Temas e valores compartilhados por vários autores;
  • Linguagem e forma de escrever semelhantes;
  • Influência do contexto histórico e social;
  • Pertencem a movimentos como Romantismo, Realismo, Modernismo, etc.

Mas, afinal, quais são os estilos de época que mais caem no ENCCEJA?

A seguir, veja um resumo dos principais movimentos literários e seus estilos de época:

Trovadorismo (Idade Média)

O Trovadorismo foi um movimento literário que surgiu na Idade Média, entre os séculos XII e XV, na região de Portugal, e  faz parte da formação da literatura portuguesa, que influenciou diretamente a literatura brasileira. Entre os trovadores mais renomados, destacam-se D. Dinis, cujas cantigas de amor são notáveis, e Paio Soares de Taveirós, conhecido por sua “Cantiga da Ribeirinha”, frequentemente citada como a mais antiga cantiga de amor galego-portuguesa.

  • Temas: Amor não correspondido, religião.
  • Forma: Poesia cantada, linguagem simples e repetitiva.

Vamos ver um vídeo da professora Camila Brambilla explicando mais sobre Trovadorismo para entender mais sobre esse período literário?

Quinhentismo (Brasil Colônia)

Literatura produzida no Brasil durante o século XVI, por exploradores e missionários portugueses. Ainda não era uma literatura com intenção artística, mas sim, adotava um tom descritivo ou de temática religiosa.

A principal obra desse período é a “Carta de Pero Vaz de Caminha”, de Pero Vaz de Caminha, um documento inaugural da literatura brasileira que descreve os primeiros contatos com a terra e seus habitantes. No campo da literatura jesuítica, destacam-se os textos do Padre José de Anchieta, com suas cartas, sermões e autos como o “Auto da Pregação Universal” e o “Na Festa de São Lourenço”, que visavam a catequese e a descrição da nova terra

  • Temas: Descrição do “novo mundo”, catequese.
  • Autores: Pero Vaz de Caminha, padres jesuítas.

Barroco (Século XVII)

O Barroco é uma das fases mais importantes da literatura brasileira. Ele marca o início de uma produção literária artística no país, com forte influência da cultura europeia e do contexto religioso da época.  É um movimento marcado por conflitos e contrastes, refletindo as tensões entre fé e razão, corpo e alma, céu e terra.

O Barroco, um marco crucial na literatura brasileira, teve seu principal expoente em Gregório de Matos, conhecido como o “Boca do Inferno”. Sua obra abrange a poesia lírica, sacra e satírica, sendo suas “Obras Completas” a principal referência para conhecer a profundidade de seus versos, que oscilam entre o fervor religioso e a crítica mordaz aos costumes da época. Outro nome fundamental é o Padre Antônio Vieira, um dos maiores oradores da língua portuguesa, cujos “Sermões” são obras-chave.

  • Temas: Conflito entre fé e razão.
  • Estilo: Linguagem complexa, figuras de linguagem como antíteses e paradoxos.
  • Autores: Padre Antônio Vieira, Gregório de Matos, etc.

No vídeo abaixo, a professora Camila explica com detalhes o estilo Barroco do Padre Antônio Vieira. Vamos conferir?

Arcadismo (Século XVIII)

O Arcadismo, também chamado de Neoclassicismo, foi um movimento literário que surgiu no século XVIII e marcou uma mudança radical em relação ao Barroco. A ideia agora era de simplicidade, razão, equilíbrio e contato com a natureza.

No Brasil, o principal nome desse movimento foi Cláudio Manuel da Costa, cujas “Obras Poéticas” são um marco, repletas de sonetos que celebram a vida bucólica e a natureza. 

  • Temas: Vida simples, contato com a natureza.
  • Estilo: Linguagem clara, valorização da razão.
  • Autores: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama e Santa Rita Durão.

Romantismo (Século XIX)

O Romantismo foi o primeiro grande movimento literário do Brasil independente. Ele refletiu a busca por uma identidade nacional, valorizando os sentimentos, a liberdade e o herói brasileiro.

No cenário da poesia, Gonçalves Dias é um nome central, com suas “Primeiros Cantos” e, em especial, a “Canção do Exílio”, que expressa o ufanismo e a saudade da pátria. 

Na prosa, José de Alencar é um dos maiores expoentes, tendo abordado diversas facetas do Romantismo. Em “O Guarani” e “Iracema”, Alencar idealiza o indígena como herói nacional, enquanto em “Lucíola” e “Senhora”, explora dramas urbanos e a figura feminina em busca de autonomia. 

Além deles, Álvares de Azevedo, com sua poesia ultrarromântica em “Lira dos Vinte Anos”, exemplifica a vertente noturna e melancólica do movimento.

  • Temas: Amor idealizado, nacionalismo, natureza.
  • Estilo: Emotivo, exagerado, cheio de sentimentos.
  • Autores: Álvares de Azevedo, José de Alencar, Gonçalves Dias, Castro Alves, etc.
Exemplo de pintura do Romantismo Brasileiro do artista Pedro Américo: Independência ou Morte, 1888. Fonte: Wikipédia.

Realismo (Fim do Século XIX)

O Realismo começou em 1881 com a publicação do romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. Foi uma reação ao sentimentalismo do Romantismo e propôs uma literatura mais crítica, racional e objetiva.

Machado de Assis é o mestre inquestionável desse movimento, e além do já citado romance, suas obras “Dom Casmurro”, que explora a dúvida e o ciúme de forma profunda, e “Quincas Borba”, que apresenta a filosofia do Humanitismo, são pilares do Realismo brasileiro. 

  • Temas: Crítica social, análise psicológica.
  • Estilo: Narrativa racional, sem exageros emocionais.
  • Autores: Machado de Assis, Raul Pompéia, Júlia Lopes de Almeida, etc.

O que acha de praticar um pouco com a professora Camila? Então clique no vídeo abaixo e veja algumas questões resolvidas da prova do ENEM sobre o autor realista, Machado de Assis.

Naturalismo (Fim do Século XIX)

O Naturalismo surgiu no mesmo período que o Realismo, mas com influências científicas, como o determinismo, o positivismo e as teorias de Darwin. Os autores naturalistas acreditavam que o ser humano era um produto do meio, da raça e da hereditariedade. 

No Brasil, o principal nome desse movimento é Aluísio Azevedo. Em sua obra “O Cortiço”, Azevedo retrata a vida nas camadas populares e a influência do meio no comportamento humano, evidenciando as características naturalistas e sociais do período, o que faz com que seja considerado exemplo máximo do Naturalismo brasileiro.

  • Temas: Ênfase no determinismo e instintos humanos.
  • Estilo: Sem idealização, com descrições explícitas.
  • Autores: Aluísio de Azevedo.

 Parnasianismo (Fim do Século XIX)

O Parnasianismo surgiu na França, como uma reação ao sentimentalismo do Romantismo. No Brasil, ele se desenvolveu na segunda metade do século XIX, por volta de 1880, tendo seu auge no final do Império e início da República.

O principal nome desse movimento no Brasil é Olavo Bilac, cujas “Poesias” são o exemplo mais representativo do estilo parnasiano. Bilac, com seu rigor formal e vocabulário erudito, abordou temas como o amor, a pátria e a própria poesia.

  • Estilo: Forma perfeita, rimas e métricas rigorosas.
  • Temas: Arte pela arte.
  • Autores: Olavo Bilac, Raimundo Correia, Alberto de Oliveira, etc.

Simbolismo (Fim do Século XIX)

O Simbolismo foi um movimento literário que chegou ao Brasil no final do século XIX, trazendo uma poesia mais subjetiva, misteriosa e ligada ao mundo dos sonhos, das sensações e das emoções profundas.

O grande nome do Simbolismo brasileiro é Cruz e Sousa, cuja obra “Broquéis” é um marco do movimento, caracterizada pela musicalidade, pelo uso de sinestesias e pela exploração da cor, especialmente o branco, e dos temas da morte e da dor.

  • Temas: Espiritualidade, mistério, subjetividade.
  • Estilo: Musicalidade e linguagem sensível.
  • Autores: Cruz e Souza, Alphonsus de Guimaraens, Emílio de Menezes, etc.

Modernismo (Século XX)

O Modernismo surgiu no Brasil em 1922, com a famosa Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo. Esse evento reuniu escritores, artistas e músicos que queriam romper com os estilos antigos (como Parnasianismo, Simbolismo e Realismo) para criar uma arte brasileira, moderna e inovadora.

1. Primeira fase (1922–1930): fase de ruptura e experimentação

A primeira fase do Modernismo no Brasil, que vai de 1922 a 1930, foi um período de intensa experimentação e ruptura com as tradições. As principais características foram o nacionalismo crítico e ufanista, a busca por uma identidade brasileira, o uso da linguagem coloquial, a liberdade formal (com versos livres e brancos), a valorização do cotidiano e o humor. Havia um desejo de “destruir” o passado e construir algo novo, genuinamente brasileiro.

  • Caracterizada pela rebeldia e busca de identidade nacional.
  • Destacam-se os autores: Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira.

2. Segunda fase (1930–1945): fase social e regionalista

A segunda fase do Modernismo brasileiro, que se estendeu de 1930 a 1945, é conhecida como a Geração de 30 ou fase de consolidação. Nela, a literatura amadureceu e se aprofundou em temas sociais, políticos e existenciais, com um realismo mais contundente e uma linguagem mais madura. Houve uma forte preocupação com as questões regionais, a psicologia dos personagens e a crítica social, ao mesmo tempo em que a poesia explorava a espiritualidade, o existencialismo e o sentimento do tempo.

  • Mais preocupada com questões sociais e o Brasil profundo.
  • Autores importantes: Graciliano Ramos, Raul Bopp, Jorge Amado.

3. Terceira fase (1945 em diante): consolidação e diversidade

A terceira fase do Modernismo brasileiro, que se estende de 1945 em diante, é conhecida como a Geração de 45 ou pós-Modernismo. Esse período foi marcado por uma busca por um rigor formal maior e um retorno à experimentação linguística, muitas vezes influenciado por tendências internacionais. Houve uma preocupação com a reflexão filosófica e existencial, o metalinguagem (a linguagem que fala sobre si mesma), e uma diversidade de estilos, com a coexistência de tendências como o regionalismo aprofundado, a poesia concreta e a prosa intimista.

  • Diversificação dos temas e estilos.
  • Autores importantes: João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, Érico Veríssimo.
Exemplo de pintura modernista brasileira: “A Negra” (1923), de Tarsila do Amaral. Fonte: https://laart.art.br/


O que é estilo de autor? Entenda a marca pessoal de cada escritor

Enquanto o estilo de época mostra o que os escritores têm em comum, o estilo de autor é aquilo que torna cada escritor único. É como uma assinatura literária, um jeito próprio de escrever que pode ser percebido mesmo dentro de um mesmo movimento literário.

Vamos analisar dois exemplos:

  • Machado de Assis (Realismo): Ironia, crítica social e psicológica, narrador que conversa com o leitor.

Leia um trecho do livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” para entender melhor o estilo do autor:

“Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário do meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguiam-no de avareza, e cuido que tinha razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneira, tinha inimigos que chegaram a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova de que Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação de avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.”

  • José de Alencar (Romantismo): Linguagem descritiva, exaltação da natureza e do nacionalismo.

Agora leia um trecho da obra “Iracema” e note a diferença da narrativa adotada pelo autor Machado de Assis e por José de Alencar:

‘’Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.

 Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.

 O favo do jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.

 Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.”

Estilo de época x estilo de autor: vamos explorar as diferenças entre os dois!

Estilo de ÉpocaEstilo de Autor
Reflete o tempo históricoReflete a visão pessoal do autor
Vários autores compartilhamÉ exclusivo de cada escritor
Ligado a movimentos literáriosLigado à originalidade individual
Exemplo: Romantismo, RealismoExemplo: Machado de Assis, Drummond

Como o ENCCEJA cobra estilo de época e estilo de autor?

Agora que você já sabe a teoria, é importante entender como isso aparece nas questões da prova. Veja abaixo os tipos mais comuns:

1. Identificação de estilo literário

Exemplo de questão:

“O texto apresenta linguagem elaborada, uso de oposições e referências religiosas. A qual movimento literário ele pertence?”

  •  Aqui, você deve identificar que se trata do Barroco.

2. Comparação entre dois autores

Exemplo de questão:

“Compare os trechos: um com foco na emoção e outro com crítica social. Identifique o estilo de época e a marca dos autores.”

  •  A questão exige que você entenda tanto o estilo de época quanto o estilo pessoal de cada autor.

3. Reconhecimento de autor pelo estilo

Exemplo de questão:

“Ao utilizar ironia e quebrar a expectativa do leitor, o autor revela um estilo pessoal marcante. Esse estilo pode ser atribuído a:”

  • Você pode associar esse estilo à Machado de Assis, por exemplo.

Dicas práticas para acertar esse tema na prova

  • Preste atenção nas palavras do texto: termos como “razão”, “emoção”, “pátria”, “mistério”, “realidade” dão pistas sobre o estilo.
  • Treine com textos literários curtos: leia contos, poemas ou trechos de livros dos autores mais famosos. Isso te ajuda a perceber o estilo pessoal.
  • Decore os principais movimentos e autores: não precisa saber tudo, mas os nomes mais famosos ajudam muito!
  • Faça resumos ou mapas mentais: visualizar os estilos e autores ajuda a fixar o conteúdo na memória.

Para dominar estilo de época e estilo de autor no ENCCEJA:

Saber diferenciar estilo de época e estilo de autor vai te ajudar a interpretar melhor os textos literários no ENCCEJA e acertar questões importantes. Lembre-se: o estilo de época reflete o contexto histórico e social, enquanto o estilo de autor mostra o jeito único de cada escritor.

Agora está na hora de colocar o seu conhecimento em prática. Vamos lá?